quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Catarses

No significado literal, a palavra que entitula este texto significa "purgação", "purificação" ou "evacuação".

A origem das "catarses", até onde me consta, vem da filosofia grega, com Aristóteles. Como eu não sou metido a filósofo, apesar de gostar do assunto, vou deixar aqui um pequeno trecho do que você pode encontrar no Wikipedia à respeito (mais honesto do que isso, impossível).

Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama.
Ou ainda:

Ou seja, é preciso que o herói trágico passe da "Felicidade" para a "Infelicidade" por alguma desmedida sua para atingir a catarse
Em termos bem práticos, catarse acontece quando a gente se depara com alguma situação que gera em nós uma identificação tamanha que faz com que haja um sentimento de liberdade, um ânimo diferente.

Ou, para a psicilogia,"catarse é o experimentar da liberdade em relação a alguma situação opressora, tanto as psicológicas quanto as cotidianas, através de uma resolução que se apresente de forma eficaz o suficiente para que tal ocorra".

E isso acontece todos os dias, faz parte do cotidiano das pessoas. Ouvir uma música e se identificar com o que está sendo cantado; assistir um filme e se "ver" num ou noutro personagem; enfim, se identificar com algo que atenue a dor de um drama, que ajude a se erguer numa situação difícil. E é bom, muito bom.

O problema todo dessa morfina psicológica é que ela não resolve os nossos problemas, não aplaca por inteiro os nossos vícios, muito menos nos livra de nós mesmos. A exceção fica por conta de uma das catarses: a que encontramos na Cruz.

Essa sim é a solução para todos os nossos vícios, porque não gera apenas um efeito efêmero na nossa dor, ou na nossa culpa. Até porque Deus não me parece muito preocupado com a intensidade da nossa culpa, mas com a eficácia do nosso arrependimento. E a catarse da cruz traz mais do que um alívio, traz a liberdade de saber que somos amados, nos fazendo amar verdadeiramente.

Fiquemos com a cruz. Ela é a melhor das catarses.

Um abraço,

Diego





segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fraudes

É isso que somos por nós mesmos: fraudes.

Levantamos as nossas mãos, dobramos os nossos joelhos diante de Deus, mas também fazemos isso em relação às nossas vontades humanas. E fazemos isso reiteradamente. A grande sacada da “santidade” proposta pela religião dos fariseus é que essa condição nunca pode estar exposta. Mas isso não é um dogma, é claro. É velado. E quem consegue manter o segredo, geralmente, está à frente dos rebanhos e é quem tem “moral” para falar alguma coisa.

O problema é quando, mesmo você conseguindo esconder a sua condição dos outros, não consegue mais esconder de você mesmo. Mesmo quando você consegue construir uma imagem de um rapaz de bem para os outros, não consegue mais suportar a própria e verdadeira imagem. Aí a coisa começa a ficar séria.

E a tendência é a vergonha e o afastamento de Deus. E, diga-se de passagem, se você já chegou ao ponto de não perdoar a sua própria condição, já passou há muito tempo do ponto em que perdoaria a do outro sem um julgamento implacável. E, por essa lógica, significa que Deus também não é capaz de perdoar a sua condição, muito menos de mudar o seu coração, trazendo a ele arrependimento. Como se fôssemos - nós, mortais - parâmetro para Deus em algum momento...

E a verdade é essa mesmo. Merecemos a morte, o inferno e o afastamento de Deus.
O que eu quero propor aqui não é que deixemos de reconhecer que somos as fraudes que somos. Porque todos pecamos, e carecemos da graça. A proposta desse pensamento é que, por maior que seja a vergonha, por maior que seja o afastamento e a reprovação imposta, desistir de se apegar a Deus e de se entristecer pelos próprios pecados nunca vai trazer paz ao coração.

Martinho Lutero disse certa vez: “peca com coragem, mas crê com coragem maior ainda e alegra-te em Cristo”. Isso não quer dizer que devemos nos conformar com o fato de sermos fraudes sem querer uma mudança. Quer dizer que, mesmo ao cair, Cristo nos encoraja a levantar. Quer dizer que devemos chegar confiadamente – ou “corajosamente” - junto ao trono da graça, para recebermos misericórdia. Quer dizer que não podemos deixar de nos alegrar em Cristo pela salvação a nós dada como dom. Quer dizer que nada pode nos separar do amor de Deus, revelado em Cristo, e que mesmo quando fraudamos a nossa inocência, Deus é capaz de restaurar a nossa essência se o nosso arrependimento for verdadeiro. Quer dizer, sim, que devemos ter como muito caro o seu sacrifício, não o banalizando. Quer dizer que Deus nos ama incondicionalmente, apesar de nós. E é para a nossa alegria.

Voltemos, então, ao primeiro amor.

Diego

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A graça e minhas medalhas

Eu sei, faz tempo que não escrevo nada.

Na verdade, faz tempo que não encontrava motivação pra escrever, seja aqui ou no meu caderno de composições (que, por sinal, ressucitou também).

Mas ultimamente eu tenho me deparado com uma das principais experiências da minha vida cristã: a Graça. "Cristo veio ao mundo para reconciliar o homem com Deus e restaurar seu relacionamento com Ele mediante morte, e morte de cruz. E tudo isso nos foi dado sem que fizessemos nada. Não há merecimento nenhum, ou honra alguma a ser dada a nós. O mérito e a iniciativa são divinas, pela graça." Essa mensagem é basilar, é o primordial para se entender o Evangelho.


Mesmo sabendo disso, o que eu quero dizer é que ela é algo que um dia todo o homem precisa experimentar: a graça em seu coração, para além da compreensão simplesmente racional. Não que compreender isso não seja suficiente, mas a experiência de se ver como pecador é igualmente necessária.

E foi essa experiência que me fez chegar até aqui. Ver, na minha vida, que de fato não há justiça própria nenhuma, deparar-me com a verdade imunda da minha natureza, que sempre esteve ali, mas eu preferia deixar "debaixo do tapete". E a gente vai levando... Vai vivendo dia após dia numa perigosa mania de achar que esta tudo bem, que somos bons.

Mas, de fato, não há nada escondido que não venha a ser revelado, conforme vemos em Efésios 5:13


"Mas todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas;
porque tudo que se manifesta é luz"

E, graças a Deus, eu pude me deparar com essa realidade, a que Paulo também se refere em Romanos 7. Desventurado homem que sou! Quem me livrará da minha natureza inclinada à distância de Deus? (adaptação minha).

E eis que me deparo em Hebreus 4:15-16 com aquilo que foi o refresco da minha alma.


"Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, a nossa semelhança, mas
sem pecado.
Acheguemo-nos, portanto, confiadamente,
junto ao trono da graça, afim de recebermos misericórdia e acharmos graça para
socorro em ocasião oportuna"
Que constatação maravilhosa! Cristo me entende, sabe das minhas fraquezas (ou, como diria Davi, no salmo 103, conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó). Eu precisava ter essa experiência, e estou tendo. Precisava entender a graça mais do que com minha compreensão racional. Precisava me ver como pecador. Precisava enxergar a minha verdade como homem, para entender a transformação que a Verdade trás.

"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Tomo a liberdade de dizer que a verdade que temos que conhecer é composta de duas faces. A primeira é a nossa verdade, a nossa condição de seres humanos falhos. A segunda é a verdade de que Cristo veio ao mundo para mim, homem falho, e morreu pelos meus pecados. Essa verdade, completa, complexa, é que liberta. E posso dizer, com alegria, que fui liberto de mim, que não ostento nenhuma medalha de auto-justiça, que mesmo as que tenho não tem mais valor algum.

Porque a única medalha que pode honrar um homem é aquela conquistada no calvário, a preço de sangue.

Com amor,

Diego