terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Da repartição

Amanheceu
Meu chefe ligou da repartição
Me disse: " você não compareceu
à última grande reunião

não deu nem motivo, se adoeceu
ou se na família alguém morreu"
Eu disse: perdão...

Vou me aposentar
e viver o que me resta
só pro meu lar
Da minha vida vou cuidar

Entardeceu
Levei minha velha pra passear
Corremos na praia até suar
Eu disse pra ela: você venceu

O meu coração nao se aguenta mais
A velha rotina ficou pra trás
Simbora viver...

O que Deus consentir
A alegria de estar
com Ele é maior
do que o dinheiro pode comprar

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Se Jesus fosse mineiro

...Dezoito horas. Hora do ângelus.

O dia termina colorido de um intenso vermelho, que logo desembocará na escuridão da noite. É o crepúsculo que se instala. À mesa, broa de milho quentinha, manteiga de leite lavada em água da bica, café fresco – como só os amigos têm direito, queijo-de-minas tirado da forma naquela hora e uma boa dose de fome de conversa.
A gente senta para comer. Digno é o trabalhador do seu alimento. A roupa encardida de suor e encorpada da labuta é trocada pelas vestes da noite - pijama de flanelinha macia, chinelo velho que já sabe todos os caminhos, e um clima de saudade no ar.
Come-se sem pressa. Hoje, nada mais há para se fazer. A contemplação e o deleite se instalam. É tempo de conversa e refeição. À medida que se satisfaz o corpo, a prosa satisfaz a alma. O final do dia é momento de reflexão, de preguiça vadia, de amizade. É hora de não se afobar, é momento de prazer. “Isto é o meu corpo e o meu sangue, dados por amor de vós”.

Não sei se foi assim. Mas, se Jesus fosse mineiro, teria sido nessa situação que ele haveria de despedir-se dos amigos...

Rubem Alves (por Márcio Duran)